O Cerrado brasileiro perdeu um Equador inteiro de vegetação nativa nos últimos 37 anos. São mais de 28 milhões de hectares – área do nosso quase vizinho Equador – convertido em agropecuária ao longo do período conhecido como Milagre do Cerrado.
O trabalho bem sucedido da Embrapa para desenvolver uma soja resistente ao clima da maior savana do mundo em biodiversidade levou a uma explosão do grão oriental no centro do país. Em 1985 havia pouco mais de 1 milhão de hectares de lavouras de soja no Cerrado. Hoje são quase 20 milhões de hectares, ou quase a área do Paraná inteiro.
O Estado sulista é um caso à parte. Um dos maiores produtores do grão no país, produzindo aproximadamente 20 milhões de toneladas de soja em 2021, o Paraná praticamente não perdeu vegetação nativa no período – já bastante afetada antes mesmo da década de 1980. Hoje, como então, resta um terço de savana no Estado.
Ao contrário do ocorrido no planalto central, o Paraná trocou pastagens de gado por soja. Em todo o resto do bioma, no entanto, o que se observou foi o avanço do Agro sobre o cerrado, expandindo as fronteiras agrícolas.
Os dados, que fazem parte da última coletânea sobre o uso e ocupação da terra no país nos últimos 37 anos, foram produzidos pelo MapBiomas a partir das imagens dos satélites Landsat, e mostram o impacto gerado pela agricultura no planalto central do país.
Na última década a principal fronteira agrícola é o Matopiba, como é conhecida a região de encontro dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – daí a sigla. Sozinho, o Matopiba corresponde a 80% da conversão direta de vegetação nativa para sojicultura entre 2011 e 2021. Antes dele, o Mato Grosso já havia perdido quase 7 milhões de hectares de Cerrado – além da área de Amazônia desmatada–, sendo hoje sozinho um dos maiores produtores de soja do mundo.